26.10.06

AMORES E ROSAS

Amores e rosas


3 dúzia de rosas
para 3 dezenas de amores.
Como é bom o desejo
Realizado no seio destas flores.
Todas belas e macias,
Amantes, amadas,
Cada qual em seu momento.
Todo meu amor cada uma sente,
Quando com cada uma me deito.

23.10.06

MORALISTAS E PROFANOS

Moralistas e profanos

Não me assombra
O mundo “imundo” dos mundanos.
O que me assusta
São aqueles humanos
Que se escondem sob a carapuça
Da moral,
Mas agem de forma tal,
Sempre sorrateiros,
E causando mal ainda maior
Que o suposto mal causado por aqueles primeiros.

BIBLIOFILIAS E BIBLIOFOBIAS

Bibliofilias e Bibliofobias
Sidinei Cruz Sobrinho[1]

Se você “enrugou” a testa ao ler as palavras acima, certamente não sofre de bibliofilia. Ao contrário, pode significar um sério sintoma de bibliofobia.
Possivelmente este foi um dos testes mais rápidos a que você respondeu na sua vida. E nem foram necessárias muitas perguntas seguidas de um sistema de pontuações ou de um divã para se chegar a tal conclusão. Aliás, se fôssemos bibliófilos convictos, não precisaríamos de tantas outras coisas que estraçalham nosso pobre dinheiro para nos dizer coisas tão óbvias. Mas este é o problema: bibliofobia causa cegueira.
Um bordão sobre a leitura é corretíssimo: “Quem lê, viaja!”. Nunca usei drogas pesadas, mas se está correto que o momento de prazer que elas causam é, como dizem, “irado”, vocês precisam ser bibliófilos, isso equivale a ter múltiplos orgasmos múltiplos. Se um orgasmo sexual é bom, um orgasmo intelectual é igual ou ainda melhor. A grande vantagem é que o acesso à vida intelectual, ao contrário das drogas, é uma viagem de ida e volta. Ele te leva para além da realidade e quando você volta consegue compreender a realidade na qual você estava, mas até então, cego e sem autonomia. Por este motivo quando numa sala de aula ou numa conversa com amigos você faz um raciocínio que transcende a realidade para compreender a própria realidade, ouve-se o inevitável: “Viajou!” ou então: “Você tá no mundo da lua cara!”. E você está mesmo. Já viu fotografias da Terra vista da Lua? Quer imagem mais contagiante?
Mas os pobres interlocutores sofrem de bibliofobia e não aceitam o único tratamento disponível, que por sinal, só tem efeitos se auto-aplicado: Primeira dosagem; leitura elevada à milionésima potência, todos os dias ao menos durante uma hora para iniciantes com aumento gradual de dosagem. Segunda dosagem: após a leitura, receita-se um bom diálogo com bibliófilos iniciais e avançados. Sempre, logo a seguir desta dosagem, repetir a primeira para que a segunda, da próxima vez, seja mais intensa e produtiva.
Seguir a receita acima nem sempre leva ao estado de relaxamento que você sente após o sexo. Mas certamente leva ao orgasmo que, como o sexual, exige a delicadeza, a minuciosidade e a persistência de um artesão e de um poeta. Se você não conseguiu estabelecer a analogia proposta é um bibliófobo de carteirinha ou nunca teve um orgasmo ou então está usando muita droga.
Se você recorreu ao dicionário para compreender as duas palavras do título, primeiramente: Parabéns! Já começou seu tratamento. Se mesmo recorrendo ao velho “pai dos burros”, não compreendeu bulhufas; por favor, se dirija a palavra “metáfora”. Se mesmo assim as palavras: “Viajou na maionese” persistem em sair de teus lábios; não tem problema. Este foi apenas um tesão literário que senti para brincar com algumas palavras. Ao contrário do que muitos pensam, o mundo da leitura e dos estudos pode ser bem humorado sem que, por isso, se torne uma piada. E como nunca se pode experimentar a dor ou a alegria de alguém para saber o que realmente ela sente, vá continuar seu tratamento. Com certeza encontrará algo bem mais interessante, compreenderá porque o óbvio às vezes parecia tão obscuro e terá argumentos para o diálogo.
Se você leu até aqui, mesmo que seja para dizer que tudo o que eu disse não é importante, irá precisar daquilo que eu disse para me dizer isso.

[1] Professor FAPLAN. Mestre PUCRS sidinei@faplan.edu.br

DESEJOS SECRETOS

Desejos secretos


Sinta o calor do meu sopro, jovem mulher, é o fogo que queima minha alma, no fogo da tua paixão e o eterno sofrimento do meu amar. Choro. Reclamo. Grito e amo, tudo faz um apaixonado, um bobo que assim fica ao te olhar. Desejo tocar a epiderme que te cobre a alma, e penetrar nos mais íntimos dos teus segredos e em segredos íntimos te amar.
Lembro dos sonhos e da realidade que vivi ao teu lado. Sem tocar seus cabelos soltos, somente a imaginar um beijo naqueles que hão de amamentar a prole. E tecer contigo noites de amor, no luar ou na aurora. Não escolhe lugar o que ama. Não ama o que escolhe a amada. A volúpia coordena meus passos, meus braços e todos os membros que anseio confundir-se no trânsito da excitação. Dividindo o mesmo chão com seu corpo nu, suave e doce. Tentado a mim trouxe, esta obra de Vênus, fruto do amor.
Vinde jovem pequena, quero tragar teu sopro, teu beijo, teu corpo, tua alma. Quero te amar. Se não vindes, estarei morto, porco, sem calma... Não sabes o que é o gozo, mesmo que mil gozos tenha sentido. Não sabes o que é um homem, mesmo que de um homem tenha vindo. Em meu corpo sentirás um deus, em meus lábios o éter, no meu gozo, o gozo do teu prazer e no prazer o desejo de mais uma vez.
Irás suar em meus braços, gritar, gemer... Farás tudo o que desejas, e te farei tudo o que jamais imaginou. Seremos chama, vento, tempestade, vulcão. Silêncio, marcha, tentação. Faremos muitas vezes o ritual, a dança, a translação.
Deitarás por fim,, ao meu lado, e não sonharás com nada, porque tudo já aconteceu. Dormirás como uma pétala sobre o calmo lago e se deixará levar pela emoção.
Velarei teu sono. Banharei teu corpo em silenciosos beijos. Vigiarei teu pulsar. Até que acordes sob o pulso do meu coração. Iniciaremos, outros passos, novos caminhos... o limite é a paixão.

LÁGRIMAS DE FERRO

Lágrimas de ferro

por Sidinei Cruz Sobrinho[1]

O menino corre sorrateiro,
Entre as lâminas paralelas.
Seu pai, papeleiro,
Recolhe o lixo da cidadela.
Sua mãe, suja e mal vestida,
Pede comida na casa das donzelas.
Sua irmã, prostituta, drogada,
Saiu na fria madrugada...
Ainda não voltou pra casa.
Sua casa?
É a mesma casa dos seus dois tios,
Um cunhado, dois “meio-irmãos”, o avô,
E um primo soldado.
Soldado do crime organizado,
Que luta contra o Estado e a democracia que os excluiu.
Sua casa tem três metros quadrados.
Um lado é de lona preta e gelada;
Tão gelada quanto a alma da mulher donzela
Que lhe negou uns centavos para o pão.
O outro lado da casa é de papelão.
Aquela casa não é engraçada;
Não tem nada,
Mas alguém mora ali.
Mora o menino que corre sorrateiro,
Entre as lâminas paralelas.
Morava sua irmã, que na madrugada
Foi estuprada e aos pedaços, no trilho encontrada.
Morava seu pai, que puxava o carinho de papel
Como um animal selvagem;
Teve fome, comprou cachaça;
Soube do ocorrido;
Preferiu não ter nascido, foi embora...
Tornou-se mais um soldado,
Foi lutar contra o Estado.
Naquela casa, morava sua mãe,
Que voltou da cidadela, sem saber
O que a esperava.
O menino corre sorrateiro,
Entre as lâminas paralelas.
Sua mãe ouve o apito
Do algoz maldito que se aproxima.
O medo lhe cala o grito.
O menino brinca; não ouve,
Apenas sente a batida do martelo
Que se move sobre as lâminas de ferro.
De ferro foi a vida.
De ferro seu trilhar.
Pelas lâminas de ferro,
Separado da cidade bonita.
A cidade que não grita
Porque de ferro são seus olhos.
Olhar que não quer ver
A mãe jogada, aos prantos,
Nos “entrecantos” da cidadela,
Segurando do filho os pequenos chinelos,
Banhados em lágrimas,
Lágrimas de ferro.


Na capital das farmácias e das construções “pós-modernas”, há décadas foi gerado um menino feio e problemático chamado Beira Trilhos. Esse “Corcunda de Passo Fundo” foi escondido e ignorado pelos inefáveis defensores da tradição e de um populacho inculto e ludibriado pela política do pão e do circo. Enquanto são gastos milhões em obras faraônicas, (tão faraônicas que antes mesmo de serem inauguradas apresentam problemas como se já existissem há milênios sem restauração alguma) e se discute a construção de um autódromo, tão necessário para esnobar o poder de alguns coronéis, o Corcunda passofundense traduz o escárnio de nossa pequena burguesia provinciana.
Há várias pessoas procurando formas para ajudar o menino feio a superar sua fobia social. Fobia essa que se canaliza em atos de violência urbana e condições de vida subumanas.
O que fazer?
A solução vai além de campanhas de agasalho ou meia dúzia de beatas distribuindo pães aos excluídos que nós mesmos excluímos. Talvez para termos como merecer o céu. O céu não importa agora. O que importa é que milhares de pessoas vivem os infernos bem ao nosso lado e o diabo quer tirá-las de lá e jogá-las em outro canto qualquer. Os assistentes de direção desse inferno todos sabem como e onde poderiam estabelecê-las, mas como a preguiça só pode ser mesmo coisa do diabo, eles não movem uma palha pra isso. Até porque se o fizerem de qualquer forma, vão apenas transferir o problema de lugar e o que se pretende é resolver o problema.
Eureka!!!!!!!
Eis a solução! Na próxima jornada da literatura, vou convidar o menino, que agora já é bisavô, e toda a sua família para embarcar no primeiro trem. O que não vai ser difícil, uma vez que o trem passa por cima de alguns deles quase todos os dias. Vamos subir todos e vamos embora pra Passargada, porque aqui nós não somos amigos do rei.

[1] Filósofo, Mestre em Filosofia Política, PUC/RS, Especialista em Direitos Humanos; Professor FAPLAN.

16.10.06

Sidinei Cruz Sobrinho Filósofo, Boêmio e Poeta!!!

Olá caros amigos. Este espaço é para compartilharmos pensares, pesares e passares a cerca daquilo que podemos cultivar no mundo das idéias e dos fatos...