10.11.07

ALUCINAÇÕES DE UM LEITOR

Sabedoria indexada nas folhas mórbidas do papel impresso. Riscos, letras, sílabas, palavras... todas cunhadas sob o esforço do exercício reflexo, onde os homens moram e morrem.. Odeio-os, pois aos milhares me cercam e os que me matam, também socorrem. Ortodoxos, sofistas, verdades, todos rondam a espreita da curiosidade, prontos para serem devorados pela boca da perplexidade.
Livros, estantes, pó, mofo e traças juntam-se numa receita lúgubre do novo, do verbo, da doxa ou da episteme. Didáticos, analíticos ou dialéticos, todos gritam num silêncio provocante:
“-Leia-me!”.
Inglês ou, francês, alemão, latim ou grego, português... Todos os idiomas, um só povo. Mil idéias. Todas compiladas nos frios corredores desta sala abandonada. Às vezes mais triste que os cemitérios, raramente visitada. As mortalhas diversas são corpos escondendo almas. Parecem viver. Escondem a alma do saber, da sabedoria os amigos.
Daqui nasce a cada dia um novo Hitler, Sócrates, loucos e sábios. O imaginável se torna possível num estalar de dedos e num piscar de olhos morre um anti-cristo ou renasce das cinzas um ateu. Num “lapsus mentis” morre um sábio, surge um político e não raras vezes um louco que deste cálice muito bebeu. Aqui está a cura de muitos males, mas também a causa deles. Dividem espaço o diabo e deus. Ali: Homero e a Odisséia,. Deste lado: a bíblia e Cristo. Do outro: a explicação sobre estes e também as controvérsias.
Tudo se esconde em algum lugar, num simples verbo ou na mais robusta enciclopédia.
Há o comum em tudo: o mistério maravilhoso, a insustentável ânsia pelo saber e caminhos diversos quais raízes que se entrecruzam, alimentando o mesmo caule. O cedro do conhecimento, o berço das dúvidas, a constante insatisfação dos que buscam tudo, mas descobrem nada saber.
Um necrotério para os tolos. Um jardim para os cultos. O presente, o futuro e o passado, cada qual em seu lugar; no lugar que cada um colocar.
Olho. E os amo.
Fujo! E continuo os amando.
Neles me enterro e com eles me enlaço numa viagem única, solitária e inesquecível