14.1.08

PRESENTE DE MORFEU


As pálpebras já pesam.
Olhos cansados e o olhar fugidio.
Epiderme refletindo pequenos tremores
Nascentes de um sistema nervoso perturbado.
Quando esse conjunto se forma
O mundo é minuciosamente analisado,
Passa a pesar como as pálpebras,
Quebrar sob a erupção nervosa.
Deprimido acordou, sentiu o peso da existência,
Deitou sem análise e analisou sem mundo.
Evoca Morfeu, o grande deus,
Aquele que contempla aos tristes
Gracioso presente:
- "Dorme homem moribundo".
Foi a ordem do bom deus.

O olhar cessou e com ele o mundo.
Algumas horas eliminam o pensar.
Dorme homem sem rumo e espera.
Espera a coragem chegar.
Só assim poderás completar a análise do mundo.
Só com ela poderás partir.

7.1.08

Hoje eu esqueci de existir


Hoje eu esqueci de existir

Hoje caminhei pela cidade. Porém não eram meus passos que tocavam o chão e nem meus olhos que percebiam as pessoas. Há muitas coisas para se ver e tão pouco para se pensar quando se está triste. Na maior parte do tempo olho para não ter que pensar, pois se fecho os olhos o mundo surge em minha mente. Quando fecho os olhos sinto dor.
Não deveriam existir as lembranças. Todas as lembranças são tristes mesmo aquelas sobre coisas alegres. Quando lembro de algo feliz fico triste porque aquilo já passou e poderá nunca mais voltar. Mesmo que volte não será a mesma. Também sou contra os tolos que, como eu, ainda sonho. Os sonhos são lembranças do que ainda não se tem. As lembranças são os sonhos do que não se tem mais. As lembranças e os sonhos não devem mais existir.
Tudo é tão simples, mas o medo e a esperança complicam a vida. Tenho medo da tristeza. Espero alegria. Nesse meio tempo, entre o medo e a esperança, deixo de existir. Quando passeava pela cidade vi muitas pessoas. Aquelas que eu deixei de ver não existiram hoje. Eu também não existi para aqueles que não me viram. Isso me faz pensar que existir é apenas uma possibilidade.
Para onde iam aqueles que caminhavam no mesmo sentido ou contrário a mim? O que pensaram as pessoas hoje? Eu procurei ficar de olhos abertos o tempo todo para ver mais e pensar menos. Mas foi inevitável! Agora, ao fim da noite já quase um ontem, eu me distrai e fechei os olhos. Uma breve distração que me fez pensar. Pensei que hoje eu havia caminhado pela cidade, visto coisas e pessoas. Ledo engano. Tolo que sou é impossível saber se pensaram em mim e, portanto, hoje caminhei pela cidade, mas não sei se hoje eu também existi. Aqui estou novamente, com medo de não ter existido e a esperança de ter existido. O bufão da corte sonhou novamente e mesmo tendo caminhado pela cidade, esqueceu de existir mais um dia.