14.5.08

LÁGRIMAS DE OUTONO




Lágrimas de outono

Para onde foram as lágrimas perdidas naquele outono? Teriam se confundido com um dia chuvoso ou secaram ainda na face pelo vento norte que rasgava folhas nas árvores do pátio? Essa solidão que me é solidária carrega meus versos e rega o gramado ao amanhecer. Queria ter nascido da terra e ser fonte de vida. É bonito ver as plantas brotarem desse ventre oculto que germina, indistintamente, o lírio do campo e a erva daninha. Queria ter caído do céu. Mamãe dizia que os anjos moram lá. Se eu viesse daquele azul mágico, só poderia se anjo também.
Queria mesmo era ser tantas coisas mas sou tantas outras que nem sei. Vocês compreendem o que é viver em constante erupção? Queima-se por dentro e chega o momento em que se abre uma cratera enorme. Desta, correm lágrimas que ferrem que marcam e que se solidificam logo ali a frente, para sempre serem lembradas. Tudo é um grito lancinante que se imortaliza em outonos constantes.


Sidinei Cruz Sobrinho

Passo Fundo 13 de maio de 2008

8.5.08

Para não dizerem que só falava das dores, acordou para falar das flores.


O bom amigo, no auge da existência chamou a atenção do jovem perdido em sua essência: "Olha rapaz, abandone um pouco a angústia". Sim. Era preciso sair ao menos por alguns instantes daquela náusea existencial. Pensando nisso o jovem poeta repousou.
Ao amanhecer, o vento frio fazia as árvores parecerem encolhidas, como que abraçando a si mesmas. Alguns raios de sol cortavam a neblina da manhã. A paisagem não mudara muito do dia anterior, quando tudo parecia trivial e tenebroso. O olhar mudou. De repente a alma daquele moço foi tomada de certa alegria. Relembrou quando ainda criança partiu de casa em busca dos sonhos. Uma doce nostalgia embriagou seu espírito. Pensou na "rosa de Hiroxima", essa foi sua oração. Desejou o abraço da amada e sentiu o calor tocar o corpo. Pensou no amigo e agradeceu o conselho.
Sabia que logo estaria triste novamente. Gostou da alegria que sentiu e a apreciou bem mais do que se fosse sempre assim. Durante o dia teve muitas dúvidas, mas as guardou no bolso do casaco, para pensar amanhã, quando possivelmente estaria só. Enfim, viveu o dia em homenagem ao amigo. Para não dizerem que só falava das dores, hoje acordou para falar das flores. Não falou nada sobre elas, mas as olhou com atenção e guardou aquela lúdica imagem no mesmo bolso do casaco, junto às dúvidas, assim, quando voltasse a escrever sua angústia, as palavras continuariam tristes, porém com um leve toque de perfume.


Sidinei Cruz Sobrinho

Passo Fundo 06 de maio de 2008.