14.12.08

MÁQUINA DAS CRIANÇAS GRANDES

Os homens morrem. Os homens choram. Os homens sofrem. Os homens, esses seres diferenciados pelo córtex cerebral, cansam do mundo imaginário que criaram. Cansam porque já é impossível derrubar tudo em um só golpe, como fazem as crianças com seus brinquedos. Os brinquedos do mundo moderno, tecnológico, inovador e tão arcaico como as primitivas sociedades coletoras. Onde está a dignidade?

A máquina que separa os grãos bons do que é mero resíduo, se transforma numa gigante e barulhenta máquina de jogos caça-níquel. O pó que torna insalubre o trabalho do operário suja suas roupas já velhas e o aliena na condição de assalariado. O perfume e o asseio dos nobres e intelectuais tupiniquins é excremento. Bem mais que o cheiro do suor misturado à terra, há nessas pequenas almas da escravidão, mais dignidade que nos ternos elegantes da burguesia prostituta (desculpem-me as prostitutas pela ofensa!).

Mais moedas, mais jogos. Alguns ganham pouco, outros ganham às vezes mas há aqueles que ganham sempre. Os críticos do sistema já estão mais podres que o próprio sistema. A crítica é apenas um passatempo enquanto postam outra moeda na máquina. Dê a eles o poder que criticam. Serão tão miseráveis quanto o cão que come os restos dos restos que o dono encontrou no lixo. O dinheiro é bom, é belo, é justo porque compensa a castração da infância. A infância sempre é triste para os que já cresceram. Longe de ser pessimista ou anarquista. O mundo é impressionante. Mesmo assim seria melhor, nascer, brincar, crescer o mais lentamente possível, compreender o mundo e morrer logo a seguir. Compreender o mundo é muito fácil, difícil é existir nele como um ser que compreende.

Olho a máquina barulhenta. São várias peneiras. Meu gênio criativo, herança da infância com poucos brinquedos comprados e muito inventados, se torna louco. Professor Pardal ficaria tímido com a idéia: uma máquina semelhante para separa as pessoas. Idéia abortada! Falhas na execução do projeto. Quem ajustaria as peneiras? Quem criaria a máquina? Quem pensaria os critérios de seleção? E onde colocaríamos tantos resíduos? Talvez no campo, para adubo ou engordar os porcos, como se faz com o resíduo dos grãos. Idéia abortada novamente. Já existe patente. Tal de Deus fez algo semelhante. Mas a máquina está cheia de defeitos e o inventor já não existe mais. Mesmo assim as crianças grandes continuam brincando com a máquina barulhenta e estragada. Por causa dela os homens ainda sofrem, ainda choram e ainda morrem.



Sidinei Cruz Sobrinho

Vacaria 14 de dezembro de 2008