28.10.09

O POETA E A MULHER


O poeta e a mulher
Ou A poesia e o amor.


O que pensam os poetas, das mulheres?
Nada.
Simplesmente as amam de corpo e alma.
A única racionalização do amor é esta
E nada se pensa além disso.
O amor, vive-se no olhar, no desejo, no gozo...
Por isso os poetas não “disputam”, mulheres .
Ou o amor é possível,
E se realiza;
Ou que procure seu par.
O poeta apenas sabe estar ali, onde o amor está.
Se ambos estiverem a fim um do outro,
E isto se percebe no olhar,
Sorriem e se encontram
Sob o testemunho do solitário luar.
Caso contrário,
Também sorriem;
Mas parte cada um para seu viver;
Sós, sem esperar ou insistir,
Sabem que viverão felizes,
Mesmo não estando pertos.
Sabem que no momento certo
O puramente simples irá surgir:
O olhar, o desejo, o gozo.

13.10.09

CORTAR O ESTADO PELA RAIZ

As regras da humanidade sejam elas, jurídicas, econômicas ou morais sempre estiveram aquém da própria realidade. Essa tese é possível de ser sustentada se compreendermos que as chamadas crises nem sempre são as causa diretas dos efeitos negativos que sentimos. São, na maioria das vezes, elas próprias conseqüências de uma crise ainda maior, gerada pelo inconsciente coletivo. A crise da ética.
O racionalismo moderno, inaugurado na figura do filósofo Descartes, nos leva a pensar tudo matematicamente e a construirmos formas lógicas para solução de conflitos sociais. Assim, cria-se um sistema jurídico positivista no qual a mera adequação do fato à norma geral, por dedução, gera a solução previamente estabelecida no ordenamento.
A moral, compreendida como juízo subjetivo de valor, faz com que a sanção subjetiva, como queria Kant, seja reparada por terceiros de forma objetiva, como possibilita o Direito moderno, e não pelo próprio sujeito. Ou seja, Kant havia demonstrado a separação entre Direito e Moral. A incapacidade de respeito à moralidade e à alteridade resultou na confusão daquilo que já havia sido esclarecido. Confudem-se as regras porque estas são utilizadas como fim em si mesmo, em benefício próprio, e não como meios para se garantir o bem comum e a coesão social.
Na economia, a liberdade de mercado e a defesa exacerbada da propriedade privada garantem a fraterna igualdade na possível geração de lucros. Dentro dessa lógica a “mão invisível” do mercado, como pretendia Adam Smith, se encarregaria de acomodar os pequenos solavancos e garantir a ordem do sistema. No entanto, como se percebe, invisível são apenas as mãos que corrompem a ordem, burlando o sistema também em benefício próprio. O resultado é que cada um busca mais direitos na medida em que tem direito a menos deveres.
Por esse motivo é que atacamos e nos assustamos com a crise econômica, que na verdade é uma crise de confiança. Exatamente. O desgaste econômico que nos aplaca não é apenas o efeito direto do desnível econômico. Essa queda foi causada pela quebra de confiança nas relações de mercado. Alguém decide convencer outrem de que um determinado papel referende a um imóvel específico vale mais do que realmente vale. E consegue! O mais novo comprador decide agregar valor maior ainda ao seu feito e repete o feito. Como era de se esperar, chega um momento que alguém, nessa cadeia, queira liquidar seu negócio. Descobre então, que o que ele pensou ter valor e foi convencido de que teria tanto valor assim, vale coisa alguma. Frustrado, a rede de trapaças se rompe. Como todo mercado estava sustentado sobre ela, cai furtivamente até mesmo sobre aqueles que não construíram essa rede, mas dependem do mercado por ela suspenso. A confiança aparente ludibriou até mesmo a maior potência econômica.
Dessa forma o mundo desliza sobre a ignorância inócua de um racionalismo frustrado. Quer dizer, organizamos o “Contrato social” de acordo com as importantes leis da lógica formal ainda estruturada por Aristóteles. Contudo esquecemos o principal, de que a lógica é simples instrumento para se desenvolver um raciocínio correto em busca da verdade. O lógico nem sempre é o real, o verdadeiro. Assim, as “grandes” mentes racionais e evoluídas agem fundamentadas sobre falácias, esses capciosos argumentos com aparência de verdade.
No mesmo sentido podemos analisar a questão do dano moral, no ambiente jurídico. Felizmente alguns já começaram a perceber que a rede de indenizações por dano moral está prestes a ser rompida. No entanto, o raciocínio, neste caso, não é contrário ao direito de ser indenizado quando se sofre dano moral cometido por terceiro, assim como, não se é contra o direito à propriedade privada. Essas são regras boas em si mesmas. O problema não está no instrumento, está no operador, no autor e destinatário dessas normas que as manipula em beneficio próprio de cunho individualista.
A pergunta correta não é como superar a crise? Como diminuir o numero de indenizações por danos morais? A resposta a estas questões serão dadas de forma natural ao respondermos à questão principal: Por que a crise econômica, jurídica e moral foram possíveis?
Para essa resposta se faz necessário o entendimento de alguns conceitos. Assim evitamos que os mesmos sejam utilizados para a construção de novas falácias. Do contrário teremos que abordar também a crise da linguagem. O que não seria nada assustador para uma sociedade que já se reconhece como vivendo no século do estresse e da depressão. Conseqüências psicossomáticas do mesmo motivo que, como veremos, responde à nossa pergunta principal.
Quando falamos acima da crise de confiança que gerou a crise econômica, queremos dizer que essa quebra de confiança também possibilita tantos danos morais. Resultado formal disso tudo é a crise do sistema econômico e jurídico. Afirmamos também que o problema não está no sistema, mas no procedimento. Nesse sentido não cabe uma revolução. Cabe uma reestruturação, como já defende Habermas na obra Direito e democracia.
Ora, bem sabemos que embora tomadas como sinônimos pelo senso comum há uma distinção conceitual clássica entre moral e ética. Resumidamente, por moral entendemos toda regra de ação que diz o “dever-ser”. A ética por sua vez, não dita normas preestabelecidas de ação, mas é sempre uma reflexão sobre a própria ação.
Por isso dizemos que as regras, sejam quais forem, estão sempre atrasadas em relação à realidade. Isso não as torna inúteis. Ocorre que, quando se julga usando a regra pela regra, perdemos aqueles aspectos cruciais e atualizados de cada caso concreto cedendo espaço ao julgamento falacioso. Da mesma forma isso torna possível a manipulação das regras e, quando isso ocorre, temos a quebra de confiança, ou seja, o rompimento do principio básico que garante eficácia a qualquer regra. Logo há um racionalismo irreflexivo sobre as conseqüências da ação e, portanto, a falta de ética. Quando algo começa a definhar por falta daquilo que o sustenta, entra em colapso, crise. Sendo assim, todo o sistema atual, seja ele jurídico, econômico ou cultural está em crise porque aquilo que o sustenta já está em crise há muito mais tempo: a ética.
O filósofo Hegel afirmou que a ética é a raiz do Estado. René Descartes afirmou que o bom senso é a coisa mais bem distribuída da humanidade. Sinceramente penso que, nesse sentido, Descartes está atualmente enganado e a falta de bom senso nas relações humanas corta o Estado pela raiz.