26.10.12

MEDO CEGO


Ao findar a sexta-feira, os dias “úteis” foram encestados numa cesta feia aguardando serem lembrados talvez no final da tarde de domingo. Uma dose de uísque caia e sai do copo após outra. O conforto do lar guardava aquela solidão gostosa que só a coragem de saber estar só sem ser sozinho possibilita aos mortais. A poesia foi inevitável e a vida comum e normal dos felizes normais trafegava lá fora. O homem sozinho pensava, perdido em seus devaneios, em que pensavam os que passavam e se sabiam para onde corriam.
Num impulso de inteligência, paixão ou loucura, ele foi até a rua e interrogou, de súbito uma linda mulher:
- “Por que seu medo de viver agora mesmo aquilo que mais deseja?”
- “Para não correr o risco de perder.” Respondeu ela após se recuperar do espanto.
O homem fitou o olhar naquela linda jovem. Voltou para a solidão da sua própria companhia. Admirou a cesta feia, fechada com sexta-feira. Serviu outra dose e conclui que aquela mulher, porque vivia sempre com medo de "perder o chão", aprenderia, no final, que jamais tocou chão algum.



12.10.12

Canção do Amor

Vou cantar uma nova canção,
Descobertas de um novo amor,
E resgatar a velha emoção,
Desabrochada na velha e sábia flor.

Nos versos que cantam o amanhecer,
Na relva, na noite ou na fé...
Perceber a beleza do pulcro saber,
E deixar o coração ser o que é.

Vou sonhar um novo sonho,
Foragido em cada adormecer.
E chorar escaldantes lágrimas,
Lágrimas de meu sofrer.

Mas sei que hei de encontrar
No céu, sonho e canção salutar,
A fulgurante vida que busco,
Para toda a vida te amar

Pensamentos de uma noite sem você.


Vou deitar-me...
E se o sopro da vida faltar-me,
Quero meu corpo envolto em chamas,
Para que no pó do qual vim
Possa deitar-me novamente.
Minh’alma então, nas asas do vento,
Irá ferir os céus e o tempo.
Por fim hei de adormecer, da deusa que amo
Eterno ser os seus pensamentos.
Minha lembrança não tardará a esgotar-se
E homens virão que a poesia irá louvar.
Mas o amor, digno único de adoração,
Aos braços da virgem amada está a me levar.
Passarão os dias e as noites,
E um pobre a outro ainda cantará,
Ébrio em sua solidão,
As mesmas tristezas do meu cantar.
Virgem que o amor me ensinou,
Vênus que a aurora me trouxe,
Só vós lembrareis do amor,
Que em versos meu amor tornou-se.

Livre amor

Os conselheiros do amor
Não devem ser ouvidos.
Códigos e posições do prazer,
Deverão ser banidos.
Não há regra.
Não há método
A ser seguido.
Apenas amamos
E ao amor nos entregamos.
Se desejarmos na vida,
Algum livre amor ter vivido

Amiga Rosa.



Olá querida rosa!
Como hoje estás?
Tive um sonho,
Triste sonho,
Sonhei não vê-la mais.

Acredito cara amiga,
Que de abandonar-me,
Coragem não terias.
Mas lhe proponho um acordo,
Para unir nossas vidas:

Se nos dias que passam,
Um malvado dia passar,
E num covarde abraço,
Quiser nos separar;

marcaremos no céu uma estrela,
a que mais crepitante brilhar.
E no fim desta derradeira vida,
Iremos lá nos encontrar.

Não percas portanto,
A beleza que conténs.
Não tema-lhe o pranto
Que nos unirá no além.

Pois ao chegar o momento,
Da nossa eterna união.
No céu brilharemos,
Quais estrelas na escuridão

Num Jardim De Silêncio.



Hoje preferi apenas calar.
Num primeiro momento,
Não vi nada de diferente,
Tudo seguia seu ritmo,
Como se eu nem tivesse parado para ouvir,
Como se eu não estivesse ali.
Mas pouco há pouco pude ir mais longe,
E meus olhos desabrocharam a uma nova realidade,
Como um lírio que desabrocha saudoso
Em meio ao vasto campo.
Assim também abriram meus lábios
E neles, um sorriso brando.
Um pássaro cantava em uma harmonia transfigurante,
Nas flores que se confundiam com os raios do sol,
Nas verdes ramagens sobre o chão,
Em todo e qualquer lugar,
Descobri o amor que eu jamais encontrara.
Pela primeira vez, senti algo que não era dor,
Nem simples paixão.
Penso que seja amor,
Pois me fez chorar.
De modo algum eu podia acreditar
Que por tão longo tempo eu...
Eu simplesmente deixei a vida passar.
Então perguntei-me:
Como pode ó Deus!?
Toda esta gente que vai e que vem,
Não ter ainda percebido a realidade,
De um cálido amor que as tem?
Minha voz parecia ter se perdido
No longínquo céu azul.
E novamente as lágrimas banharam minha face.
É difícil dizer à alguém
o universo que ela possui.
Mais difícil, porém, é perceber nossa pequenez
Frente a tão imenso e misterioso mundo.
A maior covardia de um homem,
É dizer que nunca chorou,
A maior desgraça de uma vida, é morrer
e não saber se realmente amou.
Sinceramente, é difícil crer.
Que no mais secreto esconderijo do nosso coração,
Possa haver este florido jardim.
É impossível dizer
A inefável beleza que há em ti,
Esta beleza sem fim.

Flores .


Eu não sabia das flores,
Lindas flores que alegram
As flores já tristes.
Devagar, descobri, senti e chorei;
Ao saber que tão belas flores,
Foram flores que semeei.
Mas já havia pensado nas flores,
Como as rosas, gerânios e jasmins,
A violeta e a tulipa, as camélias....
Meu Deus!
São as flores que deixam a vida assim...
Tão belas misteriosas...
Passo a passo...
Primeiro botão, depois rosas.
E a rosa que morre por outras rosas,
E as flores que choram por flores novas,
E talvez lá no céu...
Não. No céu não há mais flores.
Nem amores,
Nem cores e jardins.
No céu só restam alguns anjos,
Estão chorando e olhando pra mim.
Porque do céu as flores estão sumindo
Para pouco a pouco florir teu coração.
Voltemos a florir o céu,
Para que o céu seja assim:
Serei para ti uma flor,
E serás uma flor para mim.
Semearemos então mil amores,
Entre anjos e querubins,
E no céu seremos flores,
Duas flores,
No mesmo jardim.

A Angústia De Amar.


Pobres homens poetas,
Que pensam a felicidade encontrar.
Perdem-se com frequências certas,
Na ansiedade de amar.

Hoje feliz. Amanhã...
Amanhã choras porém.
Onde estás Deus, Satã,
Ou a vida que tens?

Cansado de lutar
Entrega-se ao destino louco.
Humilhado por amar,
Alma viva, corpo morto.

Por pensar muito na vida,
Esqueceram de viver.
Por Ter a alma ferida,
Esqueceram de morrer.

Mas neste mundo que vivem,
Distante apaixonados;
Contemplam sozinho em seus leitos
O amor que há muito tem sonhado.

Noite.


Vejo a noite lá fora,
Que calma embala os sonhos meus.
Ouço o ruir das estrelas,
Brilhantes quais olhos teus.
Não compreendi...
Porque vi, porque ouvi,
O silêncio da relva
Espreitando o amanhecer.
Talvez haja um Deus distante,
Que à noite canta, sereno aos anjos seus.
Queiram, ó anjos fulgurantes,
Embalar os sonhos de minha deusa,
Deusa dos sonhos meus.
Meus olhos já pendem ao sono,
E vejo ainda a noite lá fora,
Distanciam-se de mim as estrelas,
Adormeço em meu sonhar.
Perde-se então minh’alma na noite,
Na noite em que parei para amar

A árvore Dos Sentimentos



O amor é a árvore dos sentimentos,
Cujos ramos são distintos e confusos,
Nascem juntos, mas separam-se,
Entre os frutos da alegria
e a flor das paixões.
Poderá estar na folha tristeza,
Se já não secou
Na colheita de um novo sentimento.
Este não pode ser o orgulho,
Nem mesmo a inveja.
Mas haverá sempre uma saudade
E uma solidão a brotar amargamente.
O melhor cultivo para sua árvore,
É a seiva do sincero amor,
Que encontra em você mesmo,
No mais íntimo,
Recompensa por superar a dor.

Hoje é sábado


Hoje é sábado. Sábado à noite. É dia de vários rituais. Qualquer reles mortal sabe o que acontece nos sábados. Nada de extraordinário, pois acontece todos os sábados. Mesmo assim é sábado e tem mania de se fazer diferente. É dia de mercado. Dia de feira, pra quem acorda cedinho e não pode ir na quarta-feira. Dia de família, pra quem tem família ou vontade de ter família pra quem nunca teve uma ou ainda não aprendeu a ter. Dia de passeio, de fazer compras pra quem tem dinheiro a gastar ou só olhar e sentir vontade, quem não tem dinheiro algum.
Mas agora é sábado à noite e tudo o que já foi durante o dia nem importa, já virou sábado passado. Sábado a noite é dia pizza. Dia de missa pra quem tem medo do inferno. É verão, mas parece inverno. Não importa, é sábado e ele pode ser como quiser. É noite de balada, festa agitada pra “caçar” mulher. Ou ficar em casa, sozinho como estou se mais nada disso se quer.
“Porque hoje é sábado”, já cantou Vinicius de Moraes. Há se todo mundo fosse assim como você, poetinha vagabundo que dá gosto de se ver. Hoje é sábado e tudo o que é possível, é possível ser. Hoje é sábado. Estou só. Mas não sei se isso é alegre ou triste. Sei que a tristeza existe principalmente porque hoje é sábado e não sei o que quero ser.
Esse é meu ritual, porque hoje é sábado e me permito sonhar. Hoje é sábado e não posso amar, porque meu amor está distante. E se hoje é sábado amanha talvez seja outro domingo qualquer. Domingo não tem graça. Tem só acordar tarde e chimarrão na praça. Domingo tem preocupação de segunda-feira, já virou dia normal, sem ritual.
Antes que me esqueça, ainda é sábado. Talvez eu não perceba, mas não importa o que eu beba, hoje é sábado. Sábado à noite e já vou dormir. Deixarei o mundo com o seu dia preferido. Qual o sentido? Hoje é sábado e não faz sentido algum. Só mais um dia comum. Dá pra se perceber. Vou tomar outra dose de uísque, fumar mais um cigarro até a fumaça me consumir.
Hoje é sábado. Sábado à noite. Como açoite, a solidão está a me ferir. Hoje é sábado, estou depressivo, solitário, moribundo. Porque hoje é sábado vou me esquecer do resto do mundo e vou cair. Talvez esta seja minha sorte e porque hoje é sábado nem sequer mereço a morte, então vou apenas deitar e dormir. Por que hoje é sábado. Sábado à noite. É dia de vários rituais. Qualquer pobre mortal sabe que estou bem longe de me juntar aos demais. E tudo isso, sem compromisso, apenas porque hoje é sábado e no sábado há muito reboliço.

ESPELHO


A realidade me comove mais que julgas e me preocupo com o ser humano de tal forma que sofro há anos com isso. Não sou e nunca tive a intenção de ser perfeito. Apenas busquei a felicidade. Considero que viver poderia ser bem mais fácil do que a maioria das pessoas pensa ser. Sei perfeitamente que há situações que nem uma teoria ou minha pobre filosofia são capazes de explicar e que nos resta apenas vivê-las, seja uma grande dor ou um amor intenso.
Li inúmeros livros na minha curta vida. Mas isso não me fez mais inteligente ou me possibilitou, necessariamente, ter a razão sobre minhas compreensões. Comecei a ler como fuga da minha solidão. Por anos um livro tem sido sempre meu melhor amigo e o único que houve o grito confuso da minha alma. A conclusão que tirei deles é que não se julga a inteligência de um homem pela quantidade de livros que lê, mas pela sua capacidade de ler o mundo. Muito embora seja necessário ler muitos e bons livros antes de se ariscar ler a realidade. Do contrário se cai na trágica fantasia e nas repetidas medíocres opiniões.
Quando era ainda criança, nove anos de idade, e trabalhava de "bóia-fria" nas lavouras e meus pais me "educavam" severamente, sempre me sentia um inútil. Aos poucos comecei a ganhar coragem para compreender algumas coisas no mundo. Depois, mesmo temendo os resultados comecei a formular algumas opiniões pessoais sobre o Mundo, o Homem, e Deus. A partir de então não mais sofri a solidão e a exclusão humana que me tornava invisível entre milhares de espectros humanos que mal sobrevivem. Mas, por outro lado, comecei a ganhar visibilidade e com isso inimigos e tenazes críticos ao meu modo de ser.
Começou a me incomodar a capacidade que algumas pessoas têm de julgar e não tolerar as diferenças. Lembro John Lennon que dizia: "As pessoas precisam se trancar entre quatro paredes para fazer amor enquanto muitos se matam a céu aberto". Como podemos ficar julgando os pequenos prazeres individuais se esquecemos o vício da humanidade em excluir e desconsiderar as pessoas em sua dignidade? Talvez porque, no primeiro caso, julgamos os outros e se consideramos o segundo caso, a universalidade da ideia de dignidade humana, os juízos recaiam sobre nós mesmos, sem distinção.
Senti grande alegria quando, depois de muito esforço e estudo consegui um espaço na academia científica. Sou apaixonado pelo mundo do conhecimento e talvez nisso consista o meu maior erro e seja a causa dos meus maiores infortúnios.
Sempre considerei a faculdade como o espaço por excelência do diá-logo (como confronto de razões). Nesse lugar poderíamos questionar e (re)significar muitas coisas, não todas, mas coisas significativas para o bem da humanidade. Imaginei, na minha idiota filosofia, que poderia conversar com meus alunos e colegas sobre temas importantes, discutir ideias, rever meus próprios conceitos quando identificadas falhas através das sábias ponderações dos meus interlocutores. Quando entro em uma sala de aula imagino estar em um laboratório, onde as cobaias, sãos as ideias e os pesquisadores, cada um de nós alunos e professores, com experiências e pré-compreensões que, na roda do discurso, poderiam gerar conhecimento.
Um dia li em algum lugar uma frase de Einstein que dizia "não podemos nos desesperar dos homens porque nós mesmos somos homens". Essa frase me ajudou muito pois estava completamente angustiado com a existência (coisa comum na minha vida). Resgatei alguma esperança, maldita esperança da qual não podemos nos livrar, e voltei a repensar e questionar o mundo e suas circunstâncias, não em busca de uma resposta definitiva, mas de uma compreensão da definitiva busca por questões que realmente importem.
Percebi que algumas pessoas levaram a sério isso tanto colegas professores como alunos. E ficava feliz quando, mesmo não convencendo ninguém de que meu modo de ver as coisas são os melhores, ao menos isso servia de alavanca para o pensar reflexivo e crítico destas pessoas. Ou seja, não estou interessado que os outros ajam conforme minhas ações, mas que os outros saibam por que escolhem agir como agem. Defendo a autonomia e a liberdade.
Ultimamente alguns acontecimentos me fazem começar a confirmar o que já desconfiava há algum tempo. Ser autônomo e livre tem um preço muito alto, o preço da tolerância, o preço da alteridade. Significa ter a capacidade de compreender o outro e de pensar apenas o que interessa a todos e não apenas a um indivíduo ou a uma pequena e conservadora cultura. O preço maior disso tudo pode ser a execração da sociedade por se ter uma compreensão diferenciada do que é bom, belo e justo conforme a época atual. Talvez isso explique o que aconteceu com Nietzsche, Sartre, Luter King, Gandhi, Jesus Cristo, Sócrates, Darcy Ribeiro, os intelectuais da época da ditadura (e por falar nisso, ela acabou mesmo?).
Minhas últimas conclusões se direcionam para o fato de não se poder pensar a vida e suas surpresas com todos e em todos os espaços da academia. Nem todas as pessoas servem para isso. O que não quer dizer que não sejam completamente úteis para outras coisas. Como poderia eu estar aqui escrevendo se um operário do campo não suasse forçado para ceifar a terra e possibilitar meu alimento? O que quero dizer é que algumas pessoas estão fora de foco, fora do espaço para o qual realmente tem competências e habilidades para agir com utilidade ao mundo. Sendo assim, em muitos casos devo apreender a calar e a dissimular, caso eu ainda veja algum sentido em me manter no rol dos homens de ciência acadêmica atual. Do contrário, a não ser que realize uma revolução de impacto, voltarei à invisibilidade. Esta última opção certamente me trará maior tranquilidade ao corpo e me esquivarei dos dissabores dos medíocres, mas não mais me trará a paz na mente como tem aquele que sempre esteve na ignorância.
Esse é um dos grandes problemas disso tudo, uma vez que se reflete sobre certas coisas, não há mais como se livrar desse fantasma. Pensar é algo difícil de conseguir e impossível de deixar.
Outra coisa que me espanta é que um grande número de pessoas é desprovido de qualquer reflexão. Forma-se o chamado inconsciente coletivo que muda de um paradigma falacioso ao outro como rebanho levado pelo instinto. Pior que isso, é o fato de serem aqueles indivíduos que menos pensam a vida, que mais são individualistas e egocêntricos, os que estabelecem juízos de valor sobre questões mínimas ou ainda divergem completamente sua leitura do fato, pautados em moralismos vazios. Sinceramente, não consigo compreender como que, frente à tragédia do aquecimento global, a violência civil quase que institucionalizada, a miséria humana que pede pão ou coleta papel na lixeira da nossa casa, diante de tudo isso, alguns pessoas ainda considerem significante passar horas julgando a filha da vizinha que mudou três vezes de namorado em um mês. Onde está a racionalidade? É caos que se mostra? É Kronos, o tempo, devorando seus filhos? Ou é a imbecilidade e a mediocridade humana que se revela?
Não quero que a beata deixe de ir à igreja todos os dias porque eu não vejo sentido nisso, nem que a ninfeta depravada deixe de passar noites de volúpia porque julgo que isso seja pecado e tenho medo da condenação divina. Gostaria apenas de um espaço para a tolerância. Que ocupássemos nossos tempos findos em agradáveis rodas de amigos ou em assíduas discussões sobre a vida em si. Quero a tolerância com os tolerantes e a justa pena aos intolerantes. Mas afinal. Até que ponto se deve tolerar os intolerantes?
Saberei que estamos realmente pensando a vida, não mais vendo grupos se unindo em defesa dos seus direitos, mas quando vir o diferente defendendo a diferença. Quando um negro defender as causas de um indígena, quando um tradicionalista "machista" defender o direito dos homossexuais, quando um homem fizer defesa ao espaço da mulher como igual, quando o jovem gritar em praça pública o direito dos idosos e quando aprendermos a ouvir antes de julgar.
O mistério humano me causa amor e pânico. Vivo em muitas situações o paradoxo do presente frente a inevitável vinda do futuro, que, por si mesmo, já refutou inúmeras teses morais. O que significava o divórcio há 20 anos atrás e hoje? Julgamos os homossexuais, mas nossas matrizes africanas e indígenas viviam a liberdade sexual como algo bom e espiritual. Há anos, como lembra Darcy Ribeiro em O povo brasileiro, os jesuítas condenaram a antropofagia, mas ofereciam o corpo e o sangue de cristo na santa missa. Um pouco de visão ampla para além das barreiras de nossa cultura, nos mostra que há um multiculturalismo estranho e que questiona nossas verdades. Podemos até não concordar a agir como eles, mas precisamos tolerar, precisamos respeitar a Alteridade, o encontro com o "Outro".
Isso tudo me coloca na quase que inevitável tarefa de refrear parte do meu pensar e aceitar ao menos um pouco a submissão às regras do sistema atual. Continuar desenvolvendo minha filosofia me causará sérios problemas com a censura externa. O preço, como já falei, será auto. Por muitas vezes sinto disposição para pagá-lo. Mas, por outro lado há algo hoje que me impede disso: o meu filho que irá nascer e com a vinda dele essa minha inseparável mania de acreditar, como Rousseau, de que ainda podemos resgatar os resquícios de bondade da natureza humana.
Compreendi o sentido da filosofia com Hegel, quando esse afirmava: "Pensar a vida: eis a tarefa". Mas devo admitir que às vezes a tarefa é demasiado árdua. Se o velho Aristóteles tinha razão de que uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida, então não há como ser útil sem o espaço da razão que dialoga com a emoção e a condição humana. Desta forma, se não se pode pensar a vida, seja por incompetência pessoal ou por limites externos talvez seja melhor não mais fazer parte dela. Ou então persistir e pagar o preço a custa do sofrimento próprio e dos seus próximos.
Há pessoas com as quais esse diálogo ainda seja possível e sei que elas aceitarão ouvir e discutir a vida. Sou jovem, mas sinto nas costas um peso árduo do pensar filosófico. Não sei se consigo não pensar e considerar tudo simples ou indiferente. Os mais experientes na vida e nas surpresas humanas talvez possam me ajudar. Tenho medo. E o meu maior medo hoje, é o de não sentir medo.

Sidinei Cruz Sobrinho
Passo Fundo, inverno de 2007.

Eu quero a razão

As lágrimas são a maior
estupidez humana.
o retrato da fraqueza
de quem não deve ser fraco.
A dor ou a alegria,
Ódio ou paixão,
Tudo revela este orvalho
Na face aberta,
Vinda da face oculta do escuro coração.
Não quero mais lágrimas
Nem risos nem seriedade.
Quero a verdade com o rosto que tiver.
Seja ela como for.
Quero a razão.
Para não perder o amor.

Você e Eu


Talvez algumas dúvidas,
Em teu coração eu deva por,
Teus pensamentos
Ao mistério expor...

Nada entenderá,
Do que eu disser,
Pois nada se ensina,
Sobre o amar uma mulher...

Basta olhar nas flores,
Tudo entenderá,
Não necessita de mil amores,
Para saber o que é amar.



Basta viver a vida,
E ordenar teus pensamentos,
para que na alma sintas,
a grandeza dos sentimentos

A essência da vida

A essência da vida
É preciso buscar,
Numa lágrima sentida,
O sentido de amar.
Em cada passo que damos,
Entre flores e espinhos,
Com firmeza possamos,
Mil caminhos seguir.
Sendo o céu o inferno,
Um único destino.
Não temas, ó menino,
De a vida viver.
Não necessitas de bonança,
Para aprender a amar.
Nas estrelas e na lua,
Não deixes de sonhar.
Podendo viver,
Ame como te amo,
E tudo pode mudar.
Coloca, pois,
na essência da tua vida,
o sentido de amar.

Quantas vezes

Quantas vezes estive ao teu lado...
E não me percebeu.
Quantas vezes pediu minha ajuda e ajudei...
Mas não parou para me agradecer.
Quantas vezes ofertei a minha vida...
E você a recebeu como algo qualquer.
Quantas vezes enxuguei teu pranto...
E você nunca sorriu pra mim...
Quantas vezes fui a causa de sua lágrima...
E não a compartilhou comigo.
Quantas vezes ofertei rosas...
Enquanto me feria com espinhos.
Quantas vezes exaltei seu clamor...
E nunca parou para me ouvir.
Quantas vezes me abandonou...
E eu permaneci ao teu lado.
Quantas vezes estava só...
E fui tua companhia.
Quantas vezes precisava de um amigo...
E eu fui sempre o primeiro a chegar.
Muitas foram as vezes que precisou de mim...
E eu jamais tive a coragem de te abandonar.
Muitas serão as vezes que irá precisar de mim...
E eu estarei lá;
Porque tenho a certeza que verá,
Que fui eu o teu mais fiel amigo...
E muitas serão as vezes,
Que irá me agradecer e me amar...

Um homem que chora

Os dias passaram depressa
E nada vi mudar,
Chegam os dias de festa
E continuo a chorar.

Choro por não ser amado,
Ou por não saber amar.
Sou apenas um despojado
Não mais sei o que é sonhar.

Correm lágrimas à noite,
E também ao amanhecer.
Sofro a dor do açoite,
Nada representa viver.

Sou ferido pelo pecado,
Que destrói e faz chorar,
Fui abandonado distante,
Por não saber o instante,
A hora de amar...

Desejo de um poeta


Quero viver e amar,
em teus olhos brilhar
qual chama fulgurante.
Neste amor alucinante
De alegrias sem fim.
Seja qual for a razão,
até mesmo se razão não existir,
quero viver esta paixão,
nesta paixão me consumir.
Como coroa de jasmins
Embelezar-te-ei em favos de mel,
Mesmo que a morte me leve,
A ti sempre amarei.
Não quero ser soberano,
Nem príncipe ou rei,
Somente viver e amar,
nesta luz de saber.
Mergulhar em seu corpo,
Qual orvalho no amanhecer,
Pois tudo o que mais quero
É amar e viver.

Morena

Eis a bela morena,
Que suave perfume exala,
Em sua pele serena,
Em seus braços me embala.

Tu me encantas e me fascina,
Teus olhos morena,
Minh’alma domina.

Nesta noite escura,
Vago a te procurar,
Nas flores, na lua,
Busco sempre teu olhar

Menina bela como flor,
Teus lábios são de mel,
Verdadeiro é teu amor.

Seus cabelos são leves,
Lisos quais pétalas de rosas,
Branca como dias de neve
É tua alma amorosa.

Com ramos de flores,
quero eu te ornar,
Dentre vários amores,
Só você quero amar.

Nos seu lábios este poema,
Sempre quero reler,
E em seus braços morena,
Amante, fiel morrer.

Decisões.

Tristes tormentos nesta vida
Que regem o corpo e a alma.
Em tua face dolorida,
Vejo lamentos e lágrima.

Era bela, tão bela quanto a flor,
Porém murchara ao raiar do sol
Não desfrutando do jovem moço o amor,
Embranqueceram-te os cabelos no arrebol.

Oh ingrata por que chora,
Se meu amor não pode agora gozar?
Já escolhi meu caminho de agora,
Pretendia, mas decidi não te amar.

Pelo inferno, da dor ao céu,
Também fui ingrato e pequei.
De teu júri me fez réu,
Somente em sonhos te amei.

Está já velha e lamenta,
Por querer quem não a quis.
É tarde e me fundamenta
Jovem moço vivo feliz

O BEIJO


Que textura agradável
É a seda deste ato
Que une o inefável do desejo
Ao fato.
É no beijo ardente
Que se percebe, da paixão as qualidades.
E no beijo suave,
O amor do coração.
A saudade...
No beijo que demora.
A alegria...

Em mil beijos seguidos.
É no beijo que o desejo se expressa.
E no beijo...
O fogo começa.
Respeito...
É beijinho na testa.
No rosto ...
É carinho.
Para ascender a paixão...
Beijos de mansinho.
Não quer se entregar
Quem do beijo rápido foge.
Ás vezes risco corre,
De beijar sozinho,
Quem ao beijo se encolhe.
Mas se o beijo permitido for,
Nasce o amor
E o poeta morre.

Andrógino

O beijo é o amor.
O beijo é o desejo
O beijo é a chave,
O retorno ao
Andrógino.

AMANTE

A saudade de ti
Inspira-me à poesia
O brilho do teu olhar
Lembra-me, nesta nostalgia,
O encontro do sol com o mar,
No horizonte dos meus sonhos.
Todas as faces são tuas
E qualquer movimento de meus músculos
Ou impulsos de minha natureza,
A ti se destinam.
O crepúsculo e o amanhecer,
Todas as flores...
E delas toda a beleza,
Curvam-se, frente a alteza do teu ser.
És negra como a noite,
Linda cor do pecado...
Passar dias de ti distante
É o pior dos açoites sobre este teu amado.
Destina as estrelas por vigias,
E te contarão, a cada passo,
como que num abraço,
o quanto te quer este teu amante

Id.

Que morram os poetas
Que morram os poemas
Que morram as flores,
Os amores e os dilemas.
De hora em diante
Serei apenas Potro
a sustentar meu falo viril.
“traçarei” todas as “potrancas”
insensíveis ao amor.
Que morram então os sonhos
E com eles a dor.
Liberte-se,
Entre gemidos,
Os prazeres reprimidos
De quem até agora
Somente amou.

Livre amor

Os conselheiros do amor
Não devem ser ouvidos.
Códigos e posições do prazer,
Deverão ser banidos.
Não há regra.
Não há método
A ser seguido.
Apenas amamos
E ao amor nos entregamos.
Se desejarmos na vida,
Algum livre amor ter vivido.

Sinfonia desconhecida.

De onde vem este som,
suave aos meus ouvidos?
Que faz silenciar os gemidos
da dor que hora sofro?
Quem será seu autor?
Será uma bela ou um belo?
Pois só pode ter beleza
Quem tão preciosa sinfonia compôs.
Vem de longe, de outro lugar,
Das cercanias da redondeza.
Ouça....
Parece traduzir a doce voz
De minha princesa!
Onde estará ela neste momento?
Quanta saudades sinto...
Bem. Sentarei.
Ó bela sinfonia!!!
Agradeço – e desconhecido maestro,
Acalmas meu tormento.

Moralismos idiotas.

Moralismos. Obras destes burocratas humanos,
São dos mesmos, cobras que traem e enganam.
Não se pode atender à moral
Quando se quer a liberdade.
Dos males, é o grande mal,
Que nos afasta da verdade.
Como matar esta praga
Que não permite o amor?
Esperai! O tempo inda apaga
Toda moral sem valor.
Então seremos verdadeiros,
Sem regras vãs para agir.
Será o agir a única regra
Que faz do homem herdeiro do amor.

Emoção e Razão


A razão domina a emoção.
Somos frágeis, tão frágeis e pequenos
Que a sina escrita no coração
É como um exército de guerreiros
Que domina os terrenos do vasto mundo da paixão.

Onde fita os olhos esta rainha,
Doce liberdade autônoma de razão,
Conquista o mundo essa menina,
Com suas artimanhas e segredos.
Num segundo vence todos os medos,
Ganha a fundo, vence sempre a emoção.