15.7.09

PERGUNTAS EM DIAS FRIOS


Perguntas em dias frios.
Os dias frios são como a alma em tempos de solidão. Tudo fica quieto e os desejos mais profundos borbulham em silêncio no calor da esperança pelos dias de sol. Os humanos, esses seres esquisitos, causam mal estar à minha pequenez. Pessoas vão e voltam de um lado para outro num frenesi neurótico. Seria possível irmos um pouco mais devagar? Como canta Lenini, poderíamos ter “um pouco mais de calma, um pouco mais de alma”?
Preciso de tão pouco, mas isso me custa tão caro. Ou abandono o mundo e sobrevivo de energia solar ou permaneço no mundo e morro de sobrecarga compulsiva e de ansiedade. Ou sou um anjo ou sou um demônio. Por que é difícil encontrar alguém que aceite a possibilidade de ser um pouco de cada um?
Traga-me um maldito humano que não seja angustiado. Onde estão os heróis da atualidade? O que é a felicidade no mundo moderno? Pergunte a um jovem: o que é liberdade? Pergunte a um idoso: o que é dignidade e se toda a experiência de vida que teve o faz mais feliz hoje? Pergunte ao padre se ele acredita que o pecado é causa do livre-arbítrio ou é uma necessidade criada para que o sacerdócio tenha sentido? Sartre disse que se Deus não existisse tudo seria possível. Resta concluir que hoje Deus não existe. Mas deixemos a teologia de botequim de lado e pensemos apenas no humano: a vida vale a pena apesar de tudo? Por quê? Porque é bonita? Mas estamos falando da vida de quem mesmo?
Essas perguntas estão aqui junto a inúmeras outras. Sei que posso ter inúmeras outras respostas que me levarão a milhares de outras perguntas num ciclo vicioso e pouco promissor. Mas qual o sentido das respostas? Devo recordar com Cecília Meirelles que "Para que a escrita seja legível,/ É preciso dispor os instrumentos,/ Exercitar a mão,/ Conhecer todos os caracteres./ Mas para começar a dizer/ Alguma coisa que valha a pena,/ É preciso conhecer todos os sentidos / De todos os caracteres/ E ter experimentado em si próprio/ Todos esses sentidos,/ E ter observado no mundo/ E no transmundo/ Todos os resultados dessas experiências". Quantas respostas têm sem jamais terem sido experimentadas por aqueles que as produzem? Quantos são capazes de dizer o sentido essencial daquilo que pensam que pensam e daquilo que seguem?
Não quero todas as respostas, desejo apenas que saibamos fazer as perguntas certas. São as perguntas que possibilitam verificar a consistência do que é dito ou vivido. Não quero ser o pessimista da história e penso que os heróis já morreram. Então não existe mais história. Existem apenas os dias frios, esperando em silêncio os dias de sol que duram tão pouco porque estaremos todos preocupados com os dias de frio que logo voltarão.

Sidinei Cruz Sobrinho, filósofo, e-mail: sidineisobrinho@hotmail.com

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