2.8.12

PEDREGULHOS


Às vezes os dias fogem pelas minhas mãos, tão suavemente como teus cabelos entre meus dedos a te acariciar. Assim são os dias, as horas os anos: simples passageiros que vão sem avisar. Meu desejo é que os momentos que nos une sejam menos breves e se eternizem no espaço. Mas infelizmente caminhamos por tantos pedregulhos que os pés calejados afligem até a mais pura das almas angelicais. Alguns de nós deixamos essas feridas nos impedirem de buscar jardins floridos. Outros decidimos ir até o jardim e trazer flores aos que ficam, mas elas acabam murchando no caminho. Ainda existem aqueles que, apesar do cansaço, decidimos carregar no colo os que amamos e estão com medo de buscar.
Quando vejo teus olhos, todas as pedras do meu caminho se transformam em campos cobertos por vagalumes acendendo seus brilhos faiscantes. Quando toco tua pele suave, é como se andasse por vales refrescantes. Quando beijo teus doces lábios, crio asas e minha alma vai para além de toda dor. Por isso é que se tornou impossível te deixar. Você me diz que não quer mais caminhar, que não aceita a flor trazida de longe e que vai secar, que não quer que a carregue em meus braços até o jardim de rosas e crisântemos perfumados.
Você decidiu assim, assim será. Eu, por minha vez, decidi aceitar tua vontade. Sendo assim, deixarei você parada no caminho. Não irei buscar flores que em breve padecerão regadas apenas por tuas lágrimas, nem mesmo a tomarei nos braços para te levar além. É justo que você decida. Respeitarei tua vontade.
De ora em diante seguirei apenas o meu coração. Enquanto você aguarda de cabeça baixa no caminho, eu removerei as pedras. Construirei um pequeno córrego e com tuas lagrimas e meu suor, farei um pequeno lago. Pedirei aos pássaros dos céus que em seus bicos de cantores divinos tragam sementes das mais lindas e distantes flores. Falarei com as formigas e usarei de toda minha filosofia para convencê-las a trabalhar comigo em busca de alimentos. Darei minhocas ao João-de-barro para que ele construa um ninho resistente a mais dura tempestade e que seja aconchegante o suficiente para ter ares de castelo imperial.


Depois que tudo estiver pronto entoarei cantos aos anjos para que soprem ventos refrescantes sobre teus cabelos. Darei versos às estrelas para que iluminem os quatro cantos do mundo. A lua será teu espelho noturno e o sol aceitará morrer para doar seu brilho aos olhos teus. Quando você perceber que já é hora de romper as lágrimas, erguerá tua face angelical e verás que a felicidade está ali, bem pertinho de você há muito tempo. Dessa vez teu riso encontrará meu olhar e meus lábios beijarão teus passos e nos amaremos envoltos em doce paixão. Assim te amo assim te quero assim te espero: construindo nosso mundo para que todos os pedregulhos sejam removidos do teu caminhar.

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