8.3.14

Pescaria



O pensamento é um passatempo.
Coisa que a alma inventou.
Acalma o tempo, a dor e o que já passou.
Pensar. Penar. Passar.
Transbordar o presente
Lançamento de dardos na escuridão.
O pensamento é um passatempo.
Voo sem asas de avião.
Pulo na solidão.
A composição dos ventos é da mesma natureza.
Suspeita da decomposição dos pensamentos.
Degustar um cálice de vinho do Porto
Com a mesma cerimônia que o padre reza um morto.
Não é fuga do tema. Senhores gramáticos.
O pensamento tem essa liberdade e
Menos dilemas que seus supostos argumentos práticos.
O pensamento é um passatempo que não passa.
Espinha a linha do corpo.
Torto caminha rumo ao coito.
Seguro, enfrenta a noite.
Silencia o barulho.
Não teme o açoite.
Foge sem ser perseguido.
Escapa, do grito algoz, ferido.
Sombra que imita a luz.
Enfrenta o diabo carregando a cruz.
Tormenta.
Cutuca o moribundo.
Louco fantasma sem lençol.
Carrega o peixe no anzol.
Flores sem primavera.
Dores de vida em qualquer estação.
Flores de primavera sem verão.
A linha do porto espera o morto.
Valente abatido em batalha real.
Estampido de guerra em espera.
Quisera um dia apenas criança.
Esperança iludida.
Mentira banal.
Vai colher flores nas nuvens.
Ouve atento o mergulho do peixe.
Se fores, do pensamento a linha deixe.
Deixe pensar e pescar em silêncio.
Pescar a noite.
Comer o dia.

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