3.7.07

EU E AS PALAVRAS


As palavras entram em ebulição. Lá dentro, não sei certo aonde, vão aquecendo e explodem veias, músculos e ordenam que meus lábios falem ou que minhas mãos escrevam. Se as contiver, pela angústia serei contido. Algumas até morrem, mas outras são maiores que eu e precisam nascer.

As palavras são diferentes das coisas e assim fica difícil saber o que são coisas e que coisas são as palavras. Penso que a alma quieta é uma alma sem palavras; uma alma ainda não germinada. "E o verbo se fez carne e habitou entre nós". Deus é isso, palavra. Amor? Palavra também. Dor, alegria, tristeza, saudade... Algumas palavras doem no silêncio da alma, outras palavras doem nos ouvidos e outras ainda, nos lábios.

Que sentido tem a palavra? É difícil responder. O que algumas palavras fazem sentir é o sentido que têm ou o sentido que damos a elas?
Silêncio também é palavra. Talvez a palavra mais cheia de sentido, porque quando não ditas, todas as palavras podem vir a ser. Por isso o silêncio é tão misterioso. Quando alguém fica em silêncio, nossas palavras tentam dizer as palavras que o outro não diz. Nesse caso, melhor é nada dizer.

Wittgenstein, um filósofo alemão que abandonou as aulas na faculdade para ensinar criancinhas, dizia no famoso aforismo sétimo do Tractatus Lógico- Philosophicus, que sobre aquilo que não se pode dizer, deve-se calar. Imaginei a humanidade toda em silêncio. O que realmente podemos dizer? Talvez seja por isso que ele foi dar aulas para crianças, elas sempre pedem o que são as plavras.

Sempre que dizemos algo o conceituamos, o (de)finimos e portanto o limitamos. Compreender algo é ter a capacidade de pega-lo e fecha-lo num círculo imaginário, dentro do qual tudo o que dizemos está ali e aquele algo não é nada senão aquilo que está ali. Como posso fazer isso com o amor, Deus, a felicidade, a tristeza, a dor, a ética, o ódio, a inveja e milhares de outras palavras que sempre fogem do círculo. Algumas palavras explodem de dentro de nós apenas para nos deixarem confusos. São como anjos malignos que zombam da nossa mediocridade.

Sempre que tenho essas convulsões lingüísticas eu tenho vontade de abandonar o mundo das palavras, porque minha alma dói. Já tentei, mas "eu" também é uma palavra. Como faço para fugir de mim mesmo?

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