8.5.08

Para não dizerem que só falava das dores, acordou para falar das flores.


O bom amigo, no auge da existência chamou a atenção do jovem perdido em sua essência: "Olha rapaz, abandone um pouco a angústia". Sim. Era preciso sair ao menos por alguns instantes daquela náusea existencial. Pensando nisso o jovem poeta repousou.
Ao amanhecer, o vento frio fazia as árvores parecerem encolhidas, como que abraçando a si mesmas. Alguns raios de sol cortavam a neblina da manhã. A paisagem não mudara muito do dia anterior, quando tudo parecia trivial e tenebroso. O olhar mudou. De repente a alma daquele moço foi tomada de certa alegria. Relembrou quando ainda criança partiu de casa em busca dos sonhos. Uma doce nostalgia embriagou seu espírito. Pensou na "rosa de Hiroxima", essa foi sua oração. Desejou o abraço da amada e sentiu o calor tocar o corpo. Pensou no amigo e agradeceu o conselho.
Sabia que logo estaria triste novamente. Gostou da alegria que sentiu e a apreciou bem mais do que se fosse sempre assim. Durante o dia teve muitas dúvidas, mas as guardou no bolso do casaco, para pensar amanhã, quando possivelmente estaria só. Enfim, viveu o dia em homenagem ao amigo. Para não dizerem que só falava das dores, hoje acordou para falar das flores. Não falou nada sobre elas, mas as olhou com atenção e guardou aquela lúdica imagem no mesmo bolso do casaco, junto às dúvidas, assim, quando voltasse a escrever sua angústia, as palavras continuariam tristes, porém com um leve toque de perfume.


Sidinei Cruz Sobrinho

Passo Fundo 06 de maio de 2008.

Nenhum comentário: