12.6.12

A existência



O mundo, repentinamente, parece se lançar sobre mim como um cão raivoso.
Os postes, como guardas discretos a me observar, enfileirados em sua onipotência ereta.
A calçada calcula meus passos.
As árvores registram meu pensar através da leitura molecular da minha respiração.
Até a fumaça do meu cachimbo redemoinha em torno do meu rosto tentando me sufocar.
Traidora miserável que tenho por companhia inseparável.
As pessoas passam depressa.
Estariam fugindo de mim?
Mas não sou eu o monstro, seus desgraçados!
Quero sair daqui, mas minha razão está inerte.
A poesia me prende no mesmo lugar e os significados emudecem minha voz.
O cão vira-latas é o único que demonstra compreensão.
Talvez porque se sinta a minha altura.
E minha altura já se sente e se senta no chão.
O caminhar cessa e agora rastejo.


A força dos braços é menos resistente que a folha apodrecendo na sarjeta.
Rolo sobre as pedras e esbarro na folha seca.
Tento retirar dela os vermes e trazê-los perto de mim para que me consumam com maior rapidez.
Até mesmo estes me ignoram.
O mundo é mal.
A maldade está corrompendo as estrelas e a noite é coberta de cinza.
A dor já retrai meus músculos e os espinhos entranham minha epiderme.
O texto foge dos meus livros e as páginas ficam amarelas na medida em que as folheio.
A vida fica insossa, inodora e incolor.
Com sofreguidão ergo as míseras pálpebras pesadas e vejo os pés da Morte montando guarda.
Morfeu ri e se afasta. Grito!
E o grito se perde antes mesmo de tocar os lábios.
No último e desesperado esforço caio além do chão em que me encontro.
A terra se abre numa fenda minúscula e nela desapareço imperceptível ao mundo que fica.

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