8.6.12

Poema de inverno


Os transeuntes começam a exibir seus belos casacos de inverno. O vagabundo mudou seu mundo debaixo da árvore para o espaço aquecido pelo sol, logo depois da fonte, no meio da praça. Aquele casal de namorados com livros do colégio, concluiu que seria melhor se abraçarem com mais força para não dispersas a energia dos corpos. Enquanto isso, numa choupana além do horizonte. Um casal de velhinhos pensou que deveriam reunir mais lenha para a lareira e fazer a cama com uma coberta a mais. Os passarinhos se amontoaram no galho da árvore de tal forma que pareciam um travesseiro de plumas. A gata veio se deitar, preguiçosa, aos pés da dona gorda que decidiu assinar um serviço de TV para assistir às novelas mexicanas. As crianças guardaram suas bicicletas. Meu filho ganhou um par de luvas, mas não gostou delas porque limitam a habilidosa curiosidade das mãozinhas de bebê.


Toda essa nostálgica movimentação para receber os dias frios. Alguns os esperam, outros esperam que passem logo. É todo um ritual que se inicia. O inverno implica numa mística propícia ao acolhimento enquanto que os dias quentes nos envolvem mais para o acasalamento. De certa forma, não se pode negar que é o trabalho da natureza transformando a tudo com sua lógica intangível.
Quanto a mim, continuo a observar e a brincar com as palavras. No entanto, também tomei algumas precauções: comprei mais vinho e tabaco para o cachimbo; separei alguns livros como Goethe, Schopenhauer, Pessoa, Sartre e Fagundes Varela; convidei alguns amigos para o ócio criativo; e, não pensei nisso mas sei que irei pensar sobre a chuva, o silêncio, o medo e todas essas coisas que me farão abrir outra garrafa de vinho.

Nenhum comentário: